segunda-feira, 6 de setembro de 2010

morning star

morning star, here I stand between you and the ground, speaking my wishes to you and to the world, and all that takes to wish the same is see her bright soul;

her beautiful hair and ways, the single reprehensive expression that she does when I say bad things, ah, the single lovely expression that she does when we lose our equilibrium while hugging, oh, these moments gave to us our best photos, the very best ones, how I love to stare at them, to feel the years that passed and to dream about the ones that are about to come,

oh, morning star, put a smile in her face, or give me the power to do so;

ah, she left marks on me, her very soul mixed with mine, her very body floating above my hands, our meaningless movements filled up with meaning, spinning in the air over the grass, under the night sky and the silver moon,
ah, she left marks on me, physical ties with her, my first piercing links me to our first talk that I can remember, the first time that my eyes found hers, how beautiful age,

morning star, please, hear me, what sacrifice you demand?

let me be with her, I promise I will, let we have coffee near Paulista and be apart of ours troubled lives for a few moments, let us pretend that the problems are far away, oh, they are far away when I’m with you, how can I feel bad by your side? let me shut my mouth, I didn’t learn this totally yet, let me hear her, let her speak her feelings to me,

morning star, let her hands cross mine and let us walk under the bright sun;

ah, you’re always the one that comprehends me, you, and only you, always understood my necessity to feel bad sometimes, to feel depressive, and knew that these were the best moments for me to talk with myself trough writing,
ah, you’re always the one that comprehends me, you, and only you, always received my childish feelings and wishes as if they’re new and singular, and my loves, everytime that I felt in love you gave me hope to believe they were real, to make them real,

morning star, let our letters endure an entire century;

let our mailboxes be always full of news, of wishes, of wonders, of simple things, ah, the littlest things are always the ones most filled with meaning and reason, let my letters reach her, even when I mistake the address, blessed be the mailman,

morning star, let her day be bright as only she deserves, let her remind the invisible lines that cross space and times to link our bodies and souls, let her see how beautiful she is and the beautiful world that surrounds her, let her realize how lucky she is, let her forgive me, forgive me, for not be as close as I wanted to;

let her see that “I’m always with you in thoughts” isn’t an excuse, it’s the only truth I dare to carry,

oh, morning star, let our travel never end;

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

X

Enfiei fundo ambas as mãos nos bolsos do sobretudo, apertei os braços contra o corpo e apressei o passo em direção ao metrô. O vento batia forte, direcionado pelo vale de prédios da rua Boa Vista, tornando o frio ainda maior. O céu estava completamente nublado e a paisagem parecia uma foto preto-e-branco. A respiração condensava formando uma nuvem ao sair da boca das pessoas. A entrada ficava cada vez mais próxima. Entrei.
Confortado pela ausência do vento, pude afrouxar o cachecol e caminhar mais calmamente. Segui para as catracas e comecei a descer pela escada-rolante que levava à plataforma. Estava cansado e quieto, de olhar vazio e de mente silenciosa. A noção de que era domingo aprisionava-me, amanhã seria segunda-feira e seguir-se-ia mais uma semana, que por mais que detivesse suas singularidades, seria como todas as outras, para acabar em mais um fim-de-semana, que traria consigo, mais um domingo. Dei uma leve risada ao pensar nisso.
Cheguei à plataforma ao mesmo tempo que o trem, não precisei procurar pelo vagão mais vazio, todos seguiam com poucas pessoas. Entrei, porém não sentei, pus-me a observar meu reflexo na porta sem perceber o garoto que estava encostado nela. A parede do túnel passava veloz por detrás do reflexo. Analisei por alguns segundo minha expressão sem obter quaisquer resultados, trazia o rosto branco, apesar de que alguns talvez o interpretassem diferente.
Reparei então que o garoto encostado na porta fitava-me, de rosto fechado, aparentando estar levemente bravo e me estranhando, provavelmente por pensar que eu o olhava, ao invés de meu próprio reflexo. Tinha a pele bem branca, e, por estar com a cabeça suavemente tombada para frente, tinha os negros e lisos cabelos caídos pela sua face, tornando inclusive difícil de focalizar nos seus olhos. Vestia roupas semelhantes às minhas, sobretudo aberto, camisa, jeans, tênis... Trazia um livro em mãos e parecia que eu havia interrompido sua leitura. E somente após de reparar todas estas coisas que eu me dei conta que agora de fato eu olhava para ele.
Ele levantou a cabeça, agora olhando diretamente para mim, olhos nos olhos. Não consegui manter o olhar, acabei por desviar o rosto e focalizar em um ponto qualquer do vagão. Envergonhado, sentei, de costas para ele.
Porém, logo que toquei no assento, o trem parou e já estávamos na estação Paraíso, aonde eu passaria para a linha verde, desci rápido, sem olhar novamente para o garoto, e atravessei a plataforma. Relaxei ao ficar esperando o trem e deixei meu olhar vagar pela estação, também havia poucas pessoas ali, apesar de que mais do que na estação São Bento, aonde eu subira. E meu olhar acabou por parar novamente no garoto, que, de costas para mim, também esperava o trem, em um ponto adjacente ao meu. Ele alternava em olhar para o túnel e ler.
O trem demorou uns minutos, mas por fim chegou, e tomei ciência de que entraríamos em vagões diferentes se eu entrasse no ponto em que eu estava. Não me incomodei com isso, tanto que adiantei meu pé direito em direção à porta, porém parei com ele no ar, no meio do primeiro passo e o voltei. Estranhei-me e respirei fundo, olhando para o chão e permanecendo parado ali por alguns segundos até que o sinal de que o trem partiria tirasse-me do meu pequeno transe. Respirei fundo mais uma vez, bravo, e corri para o vagão que o garoto tinha entrado, com as portas já fechando e por bem pouco meu sobretudo não ficara preso na porta. Ao entrar reparei que as pessoas olhavam-me, provavelmente pelo leve susto que minha entrada apressada causara. Inclusive ele olhava-me.
Corei no mesmo momento e, cabisbaixo, sentei-me em uma cadeira qualquer, sem me atrever a olhar para ele novamente. De canto de olho, vi ele desencostar da parede e caminhar lentamente em minha direção, já estando o trem em movimento, gelei e minhas pernas endureceram de tensão. Pensei na possibilidade dele estar vindo iniciar algum tipo de contato comigo, minhas pernas endureceram ainda mais e inconscientemente prendi a respiração.
Mas ele passou reto por mim. Meu corpo relaxou então em frustração, soltei a respiração. Senti-me bobo e me xinguei por ter entrado naquele vagão. Tentando distrair-me, tirei o celular do bolso e vi que havia uma nova mensagem, reconheci o número, apesar de já tê-lo deletado da memória do aparelho, me restringi a apagar-la, sem ler.
Senti então o assento mexer, e reparei que alguém havia sentado atrás de mim. Pensei na possibilidade de ser o garoto, minhas pernas voltaram a endurecer, mas logo me senti idiota e fiquei bravo comigo mesmo, rejeitando a hipótese. Porém, não custava olhar, não é? Meu pescoço endureceu e, assim, foi aos poucos girando para o lado, tentando ver se era ou não o garoto. E nesse breve instante reparei não só que era ele, como que ele também trazia o pescoço virado, igual à mim, na tentativa de ver-me. Virei o rosto para frente no mesmo momento.
Senti o banco mexer novamente, o garoto levantara. Ele passou do meu lado e sentou-se em um assento adjacente ao meu, quieto e olhando para o chão, trazendo ainda o livro em mãos. Meu corpo todo endureceu dessa vez, fitei o chão por alguns minutos e permanecemos apenas sob o som do trem locomovendo-se de estação para estação.

sábado, 5 de setembro de 2009

Ópera das Ruínas

Uma orquestra inteira a invadir as ruínas, uma melodia completa a preencher o silêncio, uma ópera magnífica a embelezar a noite.
E a noite cai fria para os operários das ruínas, eles retornam silenciosos e sombrios aos seus depósitos, trazem os rostos cobertos de poeira e cinzas, os motores, ainda incandescentes e rangentes de fadiga, os estômagos, vazios, os corações, famintos.
Engrenagens desgastadas a ranger, dentes a bater de frio.
Eles seguem unidos, enfileirados, como batalhões a preencher as ruas estreitas representando um mesmo símbolo, um mesmo ideal, uma fome uníssona, um anseio mútuo, uma mente coletiva. Um exército ainda não acordado para o hábito de lutar. Um exército ainda não consciente de seu próprio poder.
Botas quentes e suadas a bater fortemente contra o asfalto frio.
Um a um eles adentram em casa. Mecanicamente beijam patroa e prole, são cansados beijos de saliva e zinco. Famintos devoram como reis o pouco do que separam para si dos suprimentos de suas mansões, mas isto apenas não lhes basta, as fornalhas envoltas por labareda e cinzas clamam por mais alimenta e também outros tipos de calor. Por hora, ficam com sua marmita de brioche e aço.
Maxilares desesperados a mastigar.
Descansam suas peças sucateadas frente à alienadora das noites, a caixa mágica de enunciar falsas verdades, iluminados pela luz hipnotizadora sentem o torpor invadir suas veias. Assistem esperançosos e quase babando as histórias de vida do exterior-maravilha. Impressionam-se com o quanto a vida pode ser luxuosa e abundante para além dos muros das ruínas.
Mentiras e bocejos a ecoar.
E sempre acaba descendo à mente de um operário a idéia de que tudo vem das ruínas. Dos carros negros até as roupas da moda, tudo, tudo, dos cereais do café da manhã até os móveis de madeira nobre e lustrosa. A genesis tanto do que é vital quanto do que é supérfluo. Porém o que denunciam seus telhados precários e suas botas desgastadas é que tudo do mais belo produzido nas ruínas é senão o primeiro a deixá-las. Toda vez e sempre chegam os porcos rosados em seus paletós e cartolas e abocanham tudo quanto podem, enfiam os focinhos fétidos nas pilhas de plástico e cerram seus dentes onívoros sobre toda a lama que conseguem. Para as ruínas sobram pouco, melhor, o necessário, e também o que volta em detritos do que os porcos levaram; o que já não presta, ou pouco presta, ou ainda o que pode ser de alguma maneira utilizado. A nemesis tanto do que já foi vital quanto do que já foi supérfluo.
Anúncios intangíveis a invadir as casas.
De olhos arregalados com tanta revelação, o simples operário reflete a cerca de como poderia alterar tal situação, seus lábios cansados não tem voz para falar por todos os seus colegas, muito menos seus braços têm força para lutar por eles. Sabe que caso tentasse, os porcos simplesmente o trucidariam como já fizeram com tantos outros, chafurdariam seus narizes em suas entranhas para dele tirar tudo que possuísse e abocanhariam sua garganta de modo a impedir que qualquer denúncia saísse de sua boca. Inocente, imagina estar sozinho e ser o único a manter estes pensamentos perigosos. Inocentes, imaginam todos estarem sozinhos e serem os únicos a manterem estes pensamentos perigosos. Ilhados, mas mantendo secretamente, inclusive de si mesmos, um ideal mútuo. Tolos, bastaria a eles que abrissem as janelas, mirassem nas casas de seus vizinhos e vislumbrassem iguais olhos arregalados de estupefação e revelação. Mas não, permanecem coletivamente isolados e sentados, de janelas fechadas, cara a cara com a caixinha mágica, afogando-se em seus brilhantes anúncios.
Quietos suspiros de conformação.
Porém a noite segue, e seguindo vem senão a hora de dormir. Já estando a prole amontoada ao seu modo e desacordada, os operários rastejam cansados até suas camas, onde, com um animalesco sorriso de felicidade, vão encontrar suas patroas, estendidas, semi-nuas, olhando-os com luxuriosos olhos de chamado. De súbito sentem já seus corpos gritar, suas fornalhas internas acenderem vorazmente e o cansaço ser jogado juntamente ao macacão de trabalho em um canto qualquer. É a verdadeira ópera das ruínas que está para começar.
Silêncio, como uma profunda tomada de fôlego.
Os operários sobem discretamente ansiosos em suas camas, observam em olhos felinos suas presas, engatinham lentamente até elas, tal como leões em uma savana, espreitam quietos as formas onduladas dos morenos peitos, as finas cinturas, os cabelos fartos e bagunçados, as pernas atraentes, os pescoços expostos, os olhos tentadores.
Gargantas a rosnar suavemente.
Do lado de fora das casas, vê-se os telhados negros e precários estenderem-se por todos os lados, a noite fria e seca a cobri-los, as luzes tênues aos poucos se apagarem aqui e ali, as janelas fecharem-se para abafar os gemidos, os vidros adquirirem aquele tom esbranquiçado de transpiração e das frestas dos barracos saírem um vapor de cheiro humanamente animal.
Beijos suaves a cantarolar.
Os operários tomam as pernas de suas patroas, cobrem-nas de beijos dos pés às virilhas, mantendo o olhar fixo nos olhos de sua senhora, os lábios finalmente vão seguindo seus caminhos pelos abdomens até os peitos redondos, lá tecem comentários sutis e silenciosos para o agrado das fêmeas, as quais permitem a continuação do trajeto até o pescoço, onde os lábios permanecem por deliciosos minutos, sugando leve e saborosamente a pele morena.
Suspiros rápidos e surpresos de excitação.
Quando então a expectativa já é demais para suportar-se, lábios femininos e masculinos encontram-se loucamente, beijando-se, lambendo-se, engolindo-se; as línguas vêm e vão de suas cavidades, alisando e conhecendo o outro; a saliva quente e mútua escorre das bocas insanas e vão pingar sobre os membros já molhados de tesão.
Beijos loucos a gritar.
Os membros se entrelaçam, as almas se abraçam, os corações prometem um para o outro o amor sincero das ruínas, despido de jóias e mansões, quase uma necessidade, um ato natural e inerente à vida. Os corpos ocupam o mesmo espaço e segue-se o cotidianamente especial ato, o movimento harmônico dos seres, a dança de músculos e gemidos, a música de expressões e respirações frenéticas.
Camas a bater contra o chão.
São as fornalhas noturnas de produzir operários. O motivo maior da vivência desse sonho das ruínas, a semente que acaba em lenços vermelhos e gritos de felicidade, mais braços fortes para trabalhar ou até mesmo para lutar, quem dirá? A esperança das ruínas, dos operários que já não crêem em sua própria geração.
If there is any hope, it lies in the proles.
Gemidos finais e completos, satisfação e gozo.
Exaustos, os operários estendem-se em suas camas e dormem, profundos e felizes.
Nas ruínas restam apenas os ruídos dos animais noturnos.
E a ópera segue suas últimas notas, a semelhança de um réquiem, um réquiem das ruínas, em homenagem ao amor nu e sincero dos operários, é o que lhes resta para agarrar de tudo que se perde cotidianamente aos porcos.
Mas os lenços tornar-se-ão vermelhos, e, talvez, nasçam braços de lutar.

Pérolas aos porcos.
Brioche e ópera aos operários das ruínas.

Metrô


O metrô é não mais que a estrada moderna; oras, se a vida acontece na estrada, a vida acontece no metrô; é na estrada que crescemos, viver é crescer, sob o desconforto do caminho aprenderemos o que não nos poderia ser ensinado na solidão de nossos claustros, sobre o calor do trilhos e dos asfaltos a vida irá expor os desafios, nas encruzilhadas esconder-se-ão nossos demônios e nas ruas que aquelas pedrinhas chatas irão instalar-se dentro de nossos sapatos, será onde perderemos as botas, onde encontraremos outras, melhores, piores, azuis talvez; o metrô é vida condensada, ou sociedade condensada pelo menos, um lugar de convivência forçada, um laboratório, um lugar para evidenciar males, um lugar corriqueiro, um lugar para pensar, um lugar para ler, um lugar para encoxar terceiros; o metrô é um símbolo, o metrô é uma potência, o metrô é um fato, o metrô não é o metrô, o metrô é o que eu quiser que seja, o metrô é meu, o metrô é teu, melhor, o metrô é nosso, fica combinado assim.

sábado, 15 de agosto de 2009

Indiferença

Música: "Airplane" - The Album Leaf

Olha-te no espelho,
Vês-te?


Sempre gostei de parques... Não os desprovidos de vegetação, os quais os raios de sol abundam, chegando a cegar-nos os olhos... Mas sim os de céu verde-bem-escuro, com pontinhas aqui e ali de azul-claro, são bons lugares para pensar... Acredite, árvores nunca te negarão um conselho, não importando a questão, sempre balançaram suas copas, seus galhos, suas folhas, afirmativa, ou negativamente... O úmido perfume delas é agradável e aconchegante... Sua rugosa textura confere-lhes uma expressão sábia, de quem muito já viu e viveu... Sua sussurrada voz é calma e poética... Ficaria ali minha vida toda... Feliz e completo...

Mas a vida demanda outra opção.
Sais.
Ganhas a rua, os inúmeros semáforos, os incontáveis automóveis, os inacabáveis prédios.
Cinzas. Rápidos. Sólidos. Magistrais.
Buzinas, conversas, sons confusos, inconstantes, indecifráveis.
Cheiros nauseabundos fluindo entre alguns outros mais agradáveis.
A cidade é mais fria do que acusam os meteorologistas.
Toda uma paisagem a ignorar-te.
Indiferente a ti.
Mas, ironicamente, não sentes tédio, não sentes nojo, não sentes ódio.
Sentes a mesma sensação de sempre, o rotineiro conforto de quem se esconde, de quem rasteja seguro, de quem cava sem alarme, de quem não é julgado por olhares alheios.
Verdade, não há olhares.
Mas não há tempo para constatações, a vida demanda pressa, caminhas para o subterrâneo.
Esperas.
Um som característico sobrepõe os outros, anunciando a chegada do trem.
A massa metálica passa veloz, vês portas, vês janelas, vês barras e corpos presos a elas, mãos, braços, troncos, cabeças, pernas - brancas, pretas e amarelas. Um açougue. Peças humanas expostas. Paisagem.
Pegas tua maleta, e adentras.
O trem segue, as peças de carne balançam concomitantes ao trepidar do vagão, mas ocupas-te em observar o chão, indubitavelmente mais interessante.
A indiferença é recíproca, confortável.
Irônico, buscas a segura indiferença do mundo, mas odiarias se tal viesse de um próximo.
Memórias recentes ressoam em tua mente.
Palavras sussurradas e ofegantes de um ser ao teu lado.
Estais sobre a cama, repousando, descanso característico de pessoas as quais acabaram de gozar dos prazeres íntimos.
O outro quer uma relação séria, declarada.
Tens medo. Mudas de assunto.
Mas o outro insiste, quer que todos saibam de vosso amor.
Tens mais medo.
O que diriam os colegas do trabalho?
Ou os pais e o resto da família?
Ou tantas outras pessoas que te conhecem?
E tantas outras que não conheces?
Tens medo dos olhares.
Mudas de assunto.
Mas o outro insiste, quer-te, ama-te.
Negas-te ao outro.
Pegas as tuas roupas e preparas-te para sair.
Vês o quarto antes de deixá-lo, não há nada além de paredes, uma janela, uma cama, e um pedaço suado de carne sobre ela.
Assustas-te, é arrasto dos confins de seu cérebro para a realidade, olhares surgem!
A paisagem converge para um ponto fixo do trem. Tu fazes parte dela. Converges.
Duas pessoas, dois olhares recíprocos a nada além de si mesmos, dois namorados, dois garotos, ali, amando-se, beijando-se, acariciando-se, falando baixinho um ao ouvido do outro, de mãos dadas, de rostos a tocarem-se, sentirem-se, risonhos, felizes. Indiferentes à diferença.
A paisagem os julga, os olhares os julgam, comunicam-se silenciosamente em desaprovação. Tu fazes parte da paisagem. Concordas com os olhares.
Mas secretamente, até de ti mesmo, sentes inveja.
Desejas sentir aquela respiração quente, não a característica do ato sexual, mas a de conversa animada, cara-à-cara, íntima. Desejas sentir o toque macio de outros dedos entre os teus próprios. Desejas sentir o sorriso de outro penetrar-te e tornar-se teu.
Mas és indiferente.
O trem pára, os amantes descem, os olhares cessam.
As carnes voltam a balançar concomitantes ao trepidar do vagão. Paisagem.
Mas meia-hora depois, chegas a tua casa, acendes as luzes e ouve uma voz receptiva vinda do fundo da cozinha.
“Oi...! Oi...!”
Por um momento o apartamento adquire uma expressão. Reconforta-te. Como se aquela singular porta fosse, com as suas três fechaduras, capaz de segurar a indiferença do mundo do lado de fora.
Mas vais até a fonte da voz e encontra teu papagaio, dás comida a ele e o bichinho infla o peito e põe-se a dormir, silencioso e satisfeito. Reparas que as rosas sobre a gaiola, presente do outro, estão murchas, secas, quebradiças, resultado da carência luminosa do local. Não vês outra opção, atirá-las no lixo.
Segues para o interior de teu lar, não te dás o trabalho de acender o resto das luzes, nem de ligar a televisão, a penumbra e o silêncio não te incomodam, não há expressão.
Colocas tuas coisas sobre a mesinha, e, por acaso, olhas para o extenso espelho sobre esta.
Observas.
Vês cabelo, um nariz, dois lábios, dois ouvidos, um pescoço, ombros, tronco, braços, mãos, coxas, pernas, pés.
Paisagem.

Não sabes, mas estás morto.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

A vontade louca e incontrolável de viver

Rápido, rápido, quase sem respirar!
Andar por ruas escuras...
Restos de papel levados pelo vento... Multidões de seres sem rosto... Sol oculto por arranha-céus...
Arranha-céus! Dentes a te engolir! Boca a te enclausurar! Antropofagia social! Pessoas a devorar pessoas! Incompreensão! Paradoxos inconscientemente sobrepostos! Discretas constantes repreensões! Injustiças! Vozes dando lugar a buzinas! Censuras! Aconcretamento espiritual! Concreto a inundar tuas vias respiratórias!
É a vontade louca e incontrolável de viver que sufoca.
Meu deus! (explosão)
Teus olhos expandem-se até o limite, mas de tão abertos mal consegues ver (dúvida)! Tuas sobrancelhas curvam-se para dentro como se tragadas pelos olhos (dois ralos na face, ressaca)! Tua testa pálida estende-se ao limite (sem cor, sem sangue)! Tuas narinas dilatam, engrandecem, vão para trás (preferem o ar do interior)! Teus dedos contorcem-se e enrijecem-se (garras)! Tuas mãos desesperadas e frenéticas vão à face sem idéia do que fazer (consolo)! E tua boca... Tua boca magnífica-se até a extensão insuportável de lábios finos, até o ângulo máximo que os ossos podem oferecer, até a dor generalizada dos músculos da face, em um grito único, um grito mudo, um grito sem voz, sem palavras, que mais suga do que expele, grito-ralo (ressaca)! Pavor! Pavor!
Por que estar aqui quando posso estar em outro lugar?!
É a vontade louca e incontrolável de viver que grita.
Silêncio...
O grito reverbera... Disforma o exterior... Ondula freneticamente o ar seco e poeirento, o céu azul-fuligem, as poças de água imundas e lamacentas do chão... Afugenta as pombas, os ratos, as baratas...
Mas é tão quebradiço e frágil contra o asfalto, contra o aço, contra o concreto, contra a pólvora, contra as pessoas...
Fugir! Fugir!
Rápido, rápido, quase sem respirar!
Foges para o interior da fera! O próprio útero colossal!
Precisas sair do formigueiro macabro, do hospício social!
Entras no primeiro vagão com que deparas! É o túnel mais rápido para escapar da selva!
Sentas! Mas precisas acalmar-te... Respirar fundo...
Encaras os arredores... Estas no conhecido baile de máscaras do dia-a-dia...
Ao divino som da ópera do metrô... Do metal contra o metal... Da metálica voz de prever estações...
Indivíduos coletivizados e suas faces de papel machê, cartolina e plástico...
Olhos ao chão... Há pouco para se ver...
Mas há muito para se ler! Muito para aprender!
É a vontade louca e incontrolável de viver que recorda.
Sim! Sim! Avança sobre os livros que carregas consigo!
Há tantas experiências para arquivar! Tantas orações para memorizar! Tantos ditados para digerir! Tantos períodos para destrinchar!
Precisas saber de tudo um pouco! Do ortodoxo ao esotérico! Do católico ao moderno! Do corriqueiro ao ecológico! Do casto ao importante! Do biológico ao extraterrestre! Do metafísico ao bizarro! Do belo ao vermelho-sangue!
Espremer de cada sílaba um motivo para viver!
Adquirir o mais contemporâneo do contemporâneoneoneoneoneoneoneoneoneoneo!
Mas as informações escorrem de tua mente... As introspecções acabam por perderem-se em ti... Pergaminhos nadam em vinagre... Lâminas de sulfite flutuam em fogueiras mentais...
O vagão pára... É a tua estação... Recolhes teus restos e sais...
É dali que pegarás o ônibus para teus montes, tuas planícies, teus céus ensolarados e estrelados...
Mas algo ainda acorrenta-te ao cenário de pedra... O que?
É a vontade louca e incontrolável de viver que cutuca.
As pessoas! (explosão)
Pessoas! Existem rostos sob as máscaras! Expressões! Olhos!
É a vontade louca e incontrolável de viver que sugere.
De olhos dilatados, fixos e aquosos de curiosidade... A boca entreaberta desleixadamente, quase a babar... Uma expressão toda de tela branca...
Eis que vês dois belos olhos! Castanhos, quase negros... Aproxima-te deles... Estão apressados... Fingem não te ver... Não te incomodas... Inconscientemente te posta na frente dos olhos impedindo-lhes a passagem... Eles param... Observam-te confusos... Aproximas tua face dos olhos... Eles são tão belos... Mas parecem tão ríspidos, fechados, superficiais... Não, não, tem de haver algo sob eles...
Vês outros olhos, tão igualmente belos! Verde-acinzentados... Esquece-te dos que flertavas e flutuas para os novos... O tratamento é semelhante... A resposta dos olhos é semelhante...
Mas eis que vês outros olhos, tão igualmente belos aos anteriores! E outros! E outros! E outros! Arghhhhh! Queres conhecer todos, mas a multidão é tão infinita! Queres aforgar-te no duplo mar de leite pessoal! Queres extrair de cada um as intimidades, os anseios, o segredo, a verdade, mas eles parecem tão lisos e secos!
Por que os olhos ignoram-te?
É a vontade louca e incontrolável de viver que pergunta.
Arghhhhh! Não te conténs! Avança sobre os olhos! Empurra-os para chamar-lhes a atenção! Puxa-os para vê-los melhor! Abraça-os para confortá-los! Fala com eles! Estas desesperado por uma resposta! Mas tudo que recebes é medo, incompreensão...
Sorriso forçado... Represa de lágrimas...
Mas encontras duas jóias brilhantes entre outras de menor valor! Ao longe vês dois olhos miúdos, fatigados, idosos, experientes, simpáticos! Queres extrospectar deles todo o seu conhecimento, todo a sua experiência, toda a sua história! Voa até eles, com as pupilas dilatadas, o coração saindo-lhe pela garganta e um sorriso louco de ponta a ponta.
Arrghhh! Mas eles se mostram tão fechados quanto os outros!
Arrghhh! Mandem chamar a alma, por favor!
Ignora os olhos, vais direto a fonte! Com ambas tremidas mãos abres à força a boca da velha senhora até quanto os limites biológicos te possibilitam! Examinas o interior quase que colocando teu próprio globo ocular dentro da cavidade! Teus olhos lacrimejam, babam de curiosidade! Vês os dentes amarronzados, a língua pequena, restos de comida aqui e ali! Não! Não! Queres a alma, o interior, os anseios! Projetas tua própria voz na concavidade! Alma!
Eco. Alma... Alma...
Enfim és arrancado de tua busca! Tua missão é interrompida por murros! Teus ouvidos sufocam-se em berros! Teus lábios experimentam o chão de cimento! Tua vida vermelha vaza por teu nariz!
É a vontade louca e incontrolável de viver que escorre.
É a vontade louca e incontrolável de viver que agoniza.
É a vontade louca e incontrolável de viver que desiste.

Já de maxilares exaustos e lábios censurados retornas à tua caverna
Sentes o peso do que querias que tivesse sido e não será.
Viver é a arte de conformar-se.
É a vontade louca e incontrolável de viver que morre.

sexta-feira, 31 de julho de 2009

Redenção

“Kyrie, ignis divine, eleison.”

Por entre seus dedos cruzados na altura dos olhos o imortal fitava fixamente o filho de Deus. Persistiu com o olhar por alguns segundos, arriscando até mesmo um leve sorriso de canto de boca. A eterna expressão de sofrimento, a eterna encharcada coroa do salvador, o eterno sangue seco a escorrer pela face, os eternos músculos exaustos como se a ponto de romperem, uma tela toda de dor implorando pela morte.
Morrer não deveria ser tão ruim, afinal.
O imortal levantou-se, desfazendo tanto a posição de reza quanto o discreto sorriso. Seus escuros olhos percorreram por toda a magnitude do local, a tênue luz dos pequenos holofotes dispostos perto do altar e na base das colunas criava bizarras formas a partir das sombras dos detalhes barrocos, os olhos dos anjos esculpidos, ocultos pela escuridão, pareciam inexistentes, longínquos, o teto permanecia à semelhança de um poço ao qual não se pode ver o final, tornando o espaço em muito maior do que realmente era, e, no centro de tudo, sobre o branco altar, Ele, arquitetado sobre seu trono-cruz, de cabeça pendida para o lado esquerdo, recusando a nos olhar.
O sacrifício de Deus para absolvição da humanidade.
Lentamente o meio sorriso voltou ao canto da boca. Todos aqueles humanos resignados, de joelhos, preenchendo os bancos de madeira da casa de Deus, suprimidos pela magnitude do ego divinal, implorando o perdão supremo, tementes ao ignis divine.
Hipócritas. Todos eles.
Repugnantes, rastejando em direção ao templo tal como vermes rastejam em direção a uma carcaça em putrefação. Almejando muito mais o alívio de suas pesadas consciências do que a palavra de salvação de um ser maior. Suas mentes podres repletas de vícios, ódio, ganâncias, suas bocas sujas repletas de falsas palavras, suas mãos fétidas banhadas em sangue alheio, seus olhos covarde incapazes encarar verdadeiramente o semblante do senhor.
Only the evil doers, Mikael.
Assim disse seu mestre em alguma noite distante. Eram outros tempos, mais limpos talvez, de mais árvores e menos prédios, de mais céu e menos fumaça, de mais religião e menos ciência, mas os homens já possuíam essa tendência canibalista, essa potência autodestrutiva. Porém Mikael sabia que por meio disso que podia alimentar-se sem sentir o peso da culpa acumular ao longo das eras. Sorver de cada veia impura a última gota de lama. A redenção de seus próprios pecados.
Era irônico pensar que ele acreditava mais em Deus do que a maioria dos mortais.
Deixando o banco, ele caminhou pelo corredor entre os bancos, austero, observando um a um os seres cabisbaixos Era impossível conter o curto sorriso. Pensamentos, palavras vaziais, flashs horrendos, súplicas, todos os fluxos advindos das mentes dos homens convergindo para os imortais olhos de Mikael. A escolha do sacrifício da noite, aquele que deixaria o plano dos vivos para encontrar-se com o criador, parecia próxima.
Sangue.
Vinha de um senhor de sereno semblante; olhos fortemente cerrados, sobrancelhas grisalhas e grossas, lábios a moverem-se como se inconscientemente, balbuciando sílabas aparentemente desconexas; era magro e trazia já o ralo cabelo acinzentado e a pele com certa flacidez, característica da idade. O fluido esvoaçava a cada potente e implacável facada. Mikael assistia às memórias perturbadas do homem indiferentemente; lá estava o velho, em um barracão escuro e decrépito, sentado sobre o abdômen de uma jovem mulher de pele morena e belos olhos abastados, a jovem debatia-se vorazmente, mas seus braços jaziam sob as pernas do homem, o qual parecia apenas divertir-se com o desespero da moça.
A explosão de terror da moça ao ver a faca retirada do paletó do velho era deliciosa aos olhos do homem.
E um a um os golpes sádicos atingiam o colo dela.
A cada golpe sádico um fino jato de sangue esvoaçava do peito moreno.
A cada fino jato de sangue o velho abria o sorriso macabro de dentes amarelos.
A cada sorriso amarelo evidenciado os olhos da moça exauriam-se de gritar.
O rito durou longos minutos, apesar de que ao velho pareceram apenas alguns saborosos segundos. Já estando há muito morta, as orbitas da moça permaneciam viradas para trás, o peito dela jazia aberto e inundado em tripas e sangue, alguns insetos voadores aproximavam-se do cadáver enquanto sentiam o odor necrotérico exalado. O velho então, cansado de sorrir e vendo seu brinquedo quebrado estendido pelo chão, quis sorver dele todo o deleite ainda restante, cobrindo o pescoço ensangüentado de beijos, lambendo os bigodes molhados em seguida.
Era suficiente.
Mikael fechou a sua mente para as bizarras lembranças do velho. Não havia mais porquê prosseguir, era aquele senhor o eleito da noite, o grande ganhador, o hipócrita dos hipócritas, o pervertido dos pervertidos. Mas era tempo de esperar agora, esperar que o infeliz trocasse suas ultimas palavras com Ele, ou com a sua ensangüentada consciência, que fosse. O imortal esperou, restringindo-se inclusive a nem mais ouvir os pensamentos do futuro morto. Mas ele levantou afinal, de olhos baixos arrumou o paletó, e sem vislumbrar o salvador ele deixou o banco, percorrendo o corredor central, passando rápido por Mikael.
O imortal deteve-se a virar e, em longos passos calmos, seguir sua presa.
Chegando ao grande portão da catedral Mikael deparou-se com uma moça de longos e cacheados cabelos avermelhados e pele branquíssima, quase como a sua própria, trazia um semblante perdido, trágico, de boca aberta desleixadamente e negros olhos como se escorressem. Não pode negar que fora irresistível a tentação de olhar dentro daquelas janelas.
Viu uma rua, a moça, uma criança acompanhada por um homem, um carro, sangue.
Muito sangue. Lágrimas, muitas lágrimas.
E a cena toda foi assistida pelo imortal e sua antiga expressão indiferente. A curiosidade se fora. Não era uma alma pecadora por hora. Ao passar pela moça, restringiu-se a pousar levemente sua mão branca sobre o ombro dela. A moça pareceu ignorar o contato, continuando a olhar fixamente para o salvador em seu trono.
O imortal ganhou o frio da noite abandonando o templo.
Caminhou pelas ruas escuras enquanto perseguia o velho, homem este que não parecia perceber os passos silenciosos do predador às suas costas. Passaram indiferentes pelas velhas construções de tijolinhos, pelas retorcidas e mortas árvores do inverno, pelo noturno céu nublado. Andaram minutos a fio até que os pés da presa a levassem para um beco qualquer dos tantos da cidade. Era o momento.
O velho caminhou calmamente até a metade do escuro beco, parou e virou-se para o imortal, encarou seu vulto próximo, da onde distinguiu apenas os longos e lisos cabelos negros jogados por de trás dos ombros, os olhos completamente negros, porém possuidores de um leve brilho assassino e seus lábios brancos como se feitos de mármore.
O imortal avançou.
Em um segundo já estava com os afiados dentes penetrados sob a pele fina do homem, dando a este apenas tempo para um quieto soluço de surpresa. Por minutos inteiros o imortal bebeu do sangue estranhamente doce, sentiu os músculos afrouxarem sob o seu abraço, os ossos penderem como se lhe tirassem a vida.
Findado o abraço, o homem caiu, como se de um boneco de ventríloquo cortassem as cordas.
Tomado por um impulso incomum, Mikael segurou o corpo antes que atingisse o chão. Como se sentasse no ar, apoiou o velho sobre suas coxas, em seu braço direito encostou as costas do assassino, com sua capa negra estendendo-se até o chão, como se formasse um pequeno altar. Pode sentir as pernas dele soltas no ar, apoiando-se levemente na sua própria perna esquerda, o braço direito do homem caído sob a perna direita do imortal, o esquerdo reconfortado abaixo do peito de seu assassino, e a cabeça do velho diretamente acima do cotovelo direito de Mikael, pendendo para o alto, como se as nuvens cinza-amarronzadas ou a fraca lua que apontava entre elas fossem a própria face do criador.
Ele sabia e aceitava que ia morrer.
Os olhos de Mikael encararam os olhos distantes do velho, a pele branca, resultado do pouco sangue que o imortal deixara em suas veias, e os lábios autônomos que, com poucos movimentos, disseram:
“Algum dia você será capaz de me perdoar?”
Os olhos de Mikael expandiram, tragicamente surpresos, sua expressão indiferente desabou. Não pode mais encarar o homem, permanecendo com a eterna e jovem face voltada para a barriga dele.
“Sim...”
Responderam seus ensangüentados lábios calma, porém sofregamente.
O imortal pode ouvir uma inspiração profunda, seguida de uma expiração libertadora.
Teve certeza então que o homem havia deixado este mundo.
Permaneceu fitando apenas o nada por minutos, sentido de seus olhos agora calmos escorrer o próprio sangue retirado do velho, para escorrer em dois finos fios por sua face de mármore e cair sobre o peito rígido do homem, a juntar-se com o que já brotava do ferimento no pescoço.
A singular beleza da morte.
A singular beleza da redenção.

Um susto sufocado quebrou o silêncio.
Em um segundo o imortal largou o corpo e virou-se para encarar o ser às suas costas.
Era a mulher dos longos e cacheados cabelos vermelhos.
Ao ver o morto e o sangue, a jovem fugiu desesperada pelo beco, como se fugisse da própria besta.
Aquele não seria o único eleito da noite...